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O Riso dos Necrófagos

Melhor Espectáculo 2021 - 2022, XIII Edição Premio Internazionale Teresa Pomodoro, Milão, Italia
O júri internacional presidido por Lívia Pomodoro (diretora artística do Teatro No´hma, Itália) e composto por Lev Abramovič Dodin (diretor artístico do Malyj Dramatičeskij Teatr, Rússia), Stathis Livathinos (encenador grego), Enzo Moscato (fundador e diretor artístico da Compagnia Teatrale Enzo Moscato, de Itália), Luís Pasqual (encenador espanhol), Tadashi Suzuki (encenador, escritor e filósofo japonês), Peter Stein (encenador alemão), Oskaras Koršunovas (encenador lituano), Muriel Mayette-Holtz (atriz e encenadora francesa, directora artística do Teatro National de Nice), Fadhel Jaïbi (diretor artístico do Teatro Nacional da Tunísia) e Gábor Tompa (encenador e realizador romeno, presidente da Union des Théâtres de l’ Europe), distinguiu o espetáculo O Riso dos Necrófagos como Melhor Espectáculo 2021-2022 no âmbito do Premio Internazionale Teresa Pomodoro "Pela transposição da dimensão carnavalesca de um ritual de procissão para uma performance hipnótica e de energia irreprimível, que mantém em vida a memória dos mortos estimulando a consciência dos vivos e erguendo-se com a força do corpo e da voz contra qualquer forma de imperialismo e de racismo.".

direção, encenação Zia Soares
texto Alda Espírito Santo, Conceição Lima, Zia Soares
interpretação Benvindo Fonseca, Binete Undonque, Daniel Martinho, Lucília Raimundo, Mick Trovoada, Neusa Trovoada, Vera Cruz, Xullaji, Zia Soares
música original Xullaji
cenário e figurinos Neusa Trovoada
desenho de luz Jorge Ribeiro
coencenação de movimento Lucília Raimundo
apoio ao movimento Marcus Veiga
construção e montagem de cenário Carlos Caetano – Construções Ilimitadas
confeção de figurinos Aldina Jesus Atelier
tradução para forro Solange Salvaterra Pinto
fotografia João Duarte, Pedro Mostardinha, Sofia Berberan
vídeo António Castelo
design gráfico Neusa Trovoada
produção executiva Célia Pires
produção Teatro GRIOT
coprodução Culturgest

apoios Academia Arte&Dança, Associação Mén Non, Batoto Yetu, Câmara Municipal Moita, Carlos Caetano – Construções Ilimitadas, Casa da Dança, Centro Cultural Malaposta, DeVIR/CAPa – Centro de Artes Performativas do Algarve, Foundation Obras,
Fundação Alda Espírito Santo, Hangar, Junta de Freguesia Misericórdia, Khapaz, Polo Cultural Gaivotas Boavista, República Democrática de São Tomé e Príncipe – Embaixada em Portugal, ROÇAMUNDO–Associação para Cultura e Desenvolvimento, TerranoMedia.
agradecimentos Ana Torres, Benvindo Semedo, Carlos Espírito Santo, elenco “MachimGang”, João Carlos Silva, Lamine Torres, Luisélio Salvaterra Pinto, Olavo Amado

M/14

O Riso dos Necrófagos começa nos vestígios da Guerra da Trindade encontrados na ilha de São Tomé, pela encenadora Zia Soares e pelo músico Xullaji, nas bocas dos que a viveram e dos que a ouviram contar, relatos de memórias desfocadas pela passagem do tempo. 

O espetáculo desenvolve-se como um organismo que se alastra em duração e simultaneidade, encontrando  inspiração tanto no percurso ritualístico que decorre anualmente no dia 3 de fevereiro em São Tomé, como no Tchiloli — teatro sincrético que se manifesta sob a forma de ritual na ilha.

Zia Soares, encenadora

A utopia de esvaziar o mar

Na Guerra da Trindade os mortos foram amontoados em valas comuns ou nunca encontradas, ou amontoados no fundo do mar — um exercício de violência perpetrado pelo invasor que acredita que ao despojar os mortos dos seus nomes os condena ao esquecimento. Mas para os santomenses esses mortos são presenças na ilha como símbolo encarnado, e para os celebrar, no dia 3 de fevereiro de todos os anos, cumprem um itinerário ritualístico desde o centro de São Tomé até à praia Fernão Dias, desfilando ao longo de várias horas numa marcha amplificadora de falas, cantos, risos e sons que saem de corpos convulsos. 

O Riso dos Necrófagos transporta a esfera carnavalesca do desfile para o chão da performance construindo a isocronia no corpo dos atuantes; é prolongamento do percurso celebratório, entrópico, onde os atuantes manipulam imagens, desossam e riem do delírio numa sucessão de tempos que evoluem por via de mecanismos do transe e da possessão — o corpo abre-se a uma espécie de limbo, onde os mortos irrompem a linearidade temporal e os nexos de causalidade dos vivos; o corpo transfigura a cena à medida que os vestígios e os fragmentos da carnificina são devorados pelos atuantes-necrófagos.
É a ilha-necromante.
É o manifesto do riso.
A exultação do riso abençoado pelos mortos.
Um caos que não define a ordem.
Afinal a utopia de esvaziar o mar.

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